Voltamos, pois... Há muito para contar
Foi um interregno forçado. Mais de um ano depois voltamos.
Veremos se "isto", agora sairá com regularidade.
O que tenho para escrever? Amanhã publicarei uma "foto" do País, de acordo com os cenários do PEC. Mas entre as várias inconsistências de apresentação do Programa, há uma que é de bradar aos ceús. E que prova que o Governo faz contas em cima do joelho e muda previsões em apenas um fim-de-semana... Compreendam, por motivos profissionais, só logo à noite poderei referir o assunto.
P.S. Um ano depois, convido-vos a ler os "posts" imediatamente abaixo... Estive a reler: as tendências (infelizmente) e as explicações estão lá. Mas as "coisas" foram piores. Bem piores.
Sócrates de vez em quando lembra-se de nós,
a classe média. Já em campanha, lembrou-se de prometer baixa de impostos. Desenganem-se. O Orçamento de Estado já foi aprovado, é tarde para mudar a estrutura ou a composição do imposto. Portanto, a baixa de IRS não será para este ano. O resto é conversa para pategos. Ponto final.
Mais 200 milhões...
Hoje, Pinho aumenta em 200 milhões de euros, a linha de crédito, inicial, de 400 milhões de euros. Para investimento? Não. Para reforço de tesourarias das micro e PME... Ou seja, pagar salários, dívidas aos fornecedores, etc. É para o que servem estes empréstimos.
Todos os pequenos patrões têm o direito de ir buscar dinheiro, remediados, falidos, semi-falidos. É que o Estado anda a dar garantias do tipo "first hand" que cobrem 50% dos empréstimos bancários. Claro, a banca aceita o negócio. Veremos no que isto vai dar...
Para já, o custo destas linhas de crédito já vai nos 400 milhões de euros, entre bonificações de juros e comissões para o fundo de garantia mutuo (que dá cobertura às garantias).
Exportações arrasadas...
Tal como já aqui o dissemos várias vezes, as exportações eclipsaram-se... O destino espanhol representa 27% das empresas e, nos primeiros onze meses de 2008, as vendas recuaram 1,5%. Para a Alemanha, o comércio (exportações) caiu 0,5%, para França as perdas foram de 5% e para o Reino Unido, 7,4%. Contas feitas, para os cinco destinos as empresas perderam 683 milhões de euros em vendas. Para a UE, as exportações cairam 20,6% em Novembro, em comparação com mesmo mês de 2007.
Semanas de três dias na Malásia
O governo malaio está a ponderar instaurar a semana de três dias de trabalho (claro, com cortes correspondentes nas remunerações). O objectivo é manter o emprego, ante a quebra das exportações, contagiada pelo decréscimo do comércio mundial. Ainda assim, para este ano, espera-se que 45 mil trabalhadores do sector electrónico percam postos de trabalho. A Panasonic já fechou três fábricas, a americana Western Digital seguiu-lhe os passos e o mesmo deverá suceder com a Intel...
EUA: os campeões do proteccionismo...
Para reactivar a economia americana, um projecto de lei, respeitado por Obama: todo o ferro ou aço para aplicação na construção civil (incluindo obras publicas) deve ser produzido no país.
Não é coisa de somenos. A Comissão Europeia já avisou Washigton que não ficará quieta. E, dentro dos EUA, há quem grite de dor: a Caterpillar, a indústria espacial (Boing, Nasa, p.e.) e a General Electric temem represálias.
A Era Obama é o proteccionismo? A das barreiras ao comércio? A do triunfo dos subsídios? O que será feito de Dowa, do Terceiro Mundo?
A deflação em Portugal, de A a Z
O que é a deflação? É a queda dos preços e é consequência da falta de procura, consumo de bens e serviços. Também é possível, sectorialmente, que um excesso de oferta leve a "destruir" preços.
Como isto sucede? Um ciclo difícil de romper, com causas e efeitos difíceis de relacionar. Mas, siga este percurso, mais adaptado à realidade: um forte abrandamento da economia acaba por destruir as empresas mais frágeis. Início de desemprego, menos salários, que, por sua vez, leva a uma menor procura por parte das famílias. As outras empresas vendem menos e acabam por desacelerar nos preços à saída da fábrica. Começa aqui a desinflação (crescimento mais lento dos preços) e também a passagem do abrandamento para a recessão, crise económica... As empresas respondem, estreitando as margens comerciais ao limite e ficam descapitalizadas. Algures por aqui surgem picos de deflação (queda dos preços, os produtos ficam mais baratos). Depois a saída dos empresários, descapitalizados, é, ainda, despedir para baixar a produção. O ciclo continua: mais desemprego leva a menos rendimentos, menos compras. Por esta altura, o medo, a falta de confiança no futuro, leva as famílias a apostarem nas poupanças. Isto leva a reduzir ainda mais as compras e a produção.
Agora, isto, tão nipónico: quem tem dinheiro, também não compra: espera que no dia seguinte os produtos sejam mais baratos...
Isto pode acontecer em Portugal? Pode, de forma episódica. Ou seja, haverá meses em que os preços vão cair. Até há pouco tempo (meses) era impensável a deflação em Portugal. Desde logo, a dependência energética do país é alta. Mas o preço do barril do petróleo desceu abruptamente (os preços da alimentação também desaceleraram), no meio de uma recessão económica, provocada pela instabilidade no sistema financeiro e bancário. Em 2009, o consumo das famílias cai (0,2%, diz a Comissão Europeia) já que o desemprego aumenta (cerca de 90 mil, dos quais 50 mil por destruição de emprego). O investimento também cai, o que reduz a procura.
Os portugueses que escaparem ao desemprego, até podem ganhar poder de compra (a inflação média deverá aumentar apenas 1%), com aumentos salarios reais, taxas de juro a baixar, IRS mais baixo (efeito das medidas anti-ciclicas) mas mesmo estes felizardos vão privilegiar as poupanças. Um misto por medo e falta de confiança no futuro e porque estão muito endividados para com a banca.
Défice externo: o país está a definhar
O défice externo (tal como a dívida externa) é o sintoma mais grave da debilitada saúde da economia portuguesa. Já aqui, o dissemos várias vezes. Enormes défices da balança comercial (as exportações estão em forte desaceleração e terão caído nos últimos meses) e falta de poupanças nacionais (o que leva a banca a endividar-se no exterior para satisfazer o apetite pelos empréstimos internos; por sua vez, obriga a pagar juros ao estrangeiro) são os responsáveis pelo disparo do défice externo. Claro, isto leva a uma enorme dívida ao exterior.
Para 2008, o governo estima um défice externo de 10,5% do PIB. Nos primeiros 11 meses o défice já superava os 9,5%, um aumento de 28% face ao mesmo período de 2007... a Comissão Europeia estima um défice do tamanho de 11,8%. Um recorde absoluto... se não fosse o euro, já alguns anos que o FMI estava a tomar as rédeas da "quinta"...
Logo, Portugal está a caminho de ficar completamente hipotecado ao estrangeiro. Em Outubro, a dívida externa (o stock dos défices) já chegava aos 90,6% do PIB. Para este ano, a Comissão estima um défice menor (9,7% do PIB, o mais baixo dos últimos 4 anos). Mas, esta descida será por más razões: o consumo das famílias cai 0,2%, o investimento em equipamento 11% (!) o que leva as importações a caírem 2,8%. É verdade que haverá um aumento de poupança, o que leva a banca (em conjunto com menores necessidades de créditos do sector privado) a endividar-se menos ao exterior. Mas, todavia, é triste consolo. É que os aumentos de poupança não resultam de maior produtividade.
Isto tem consequências para os próximos anos. Com o fortíssimo corte no investimento em máquinas e consumo, em 2010 e 2011 a economia não pode crescer.
O país não morre. Mas está a definhar.
Sofrer em 2009
Em poucos dias, mais duas previsões. A Comissão Europeia não se engasga e diz que a economia recua 1,6% em 2009, em comparação com 2008. O governo diz que o PIB contrai 0,8% (igual à estimada pelo BP, no princípio deste mês). Ontem, Constâncio, no Parlamento, disse que a queda será entre 0,8% e 1,6% do PIB. A economia internacional deteriorou-se nas duas últimas semanas, justificou. É verdade.
Bom, e as famílias? Para o governo os gastos familiares no consumo aumentarão 0,4% este ano. A Comissão, pelo contrário, diz que descem 0,2%.
A minha opinião? deverá estagnar
(é para não me chatear nem com uns, nem com outros). Percebo que a Comissão espera esta quebra, já que estima um recuo de 0,9% no emprego, o que significa mais 90 mil desempregados... Haverá ganhos salariais e de poder de compra para quem não perder emprego, muito à custa de baixa inflação esperada (preços aumentam 1% em média, em relação a 2008). Mas também aumentará a poupança, já que as famílias estão fortemente endividadas e temem o futuro. Ou seja, desemprego e acréscimos de poupança, explica contracção no consumo de bens (alimentares, vestuário, duradouros) e serviços.
O Governo é mais optimista, como se lê em cima. Admite mais desemprego (cerca de 76 mil), mas espera que os aumentos salariais na Função Pública (2,9%) reactive os gastos das famílias. Estou convencido que terá desagradável surpresa: o sector privado não seguirá exemplo e mesmo os felizes sorteados com aumentos aplicarão o "excesso" em poupanças. Há indícios de que os depósitos (a prazo) na banca estão a aumentar (ver DN).
Bom, com isto, a economia sofre. Não há consumo (e as exportações recuam...), não há produção. Mas, com Portugal endividado ao exterior, talvez melhorem as contas externas. Um assunto que deixo para amanhã.
Casinha mais triste...
Deixem-me alertar para o seguinte: o BCE cortou hoje as taxas de juros de empréstimos aos bancos de 2,5% para 2%. As taxas interbancárias, praticadas entre bancos (Euribor) até podem baixar, aproximando-se da cedência do BCE. Mas para Portugal, os únicos a beneficar serão os detentores dos actuais empréstimos. Porque os novos... Bom, têm de suar as estopinhas para conseguir dinheiro do banco, na compra de casinha nova. É que agora para além de um spred mais alto, o financiamento não é a 100%... Aliás, desde Setembro que os novos contratos no hipotecário caíram 50%!
Eu não acreditei... Um milhão de desempregados?
Há dois dias, fiz um texto sobre as "notas" a Portugal, da Standard & Poor`s. Ameaça Portugal com revisão em baixa da nota, o que na prática significa que pagaremos mais juros pelos empréstimos. Isto se as contas do Estado se degradarem (défice orçamental, dívida pública, défice e dívida externa). A S&P também teme agitação política se o PS (!) ganhar as eleições com maioria simples. Mas o que não quis acreditar (não consegui falar com eles) e por isso não escrevi, é que afimam que no conjunto dos próximos 5 a 10 anos, Portugal não cresce 1%... Bem, acho que há um engano, porque a ser verdade, o país estará com mais de um milhão de desempregados, lá para 2016 ou 2017. Ou então, centenas de milhar de portugueses terão de procurar viver no estrangeiro. É a nova emigração após a década de 60...
Vejam, é triste. Vejam os vosso filhos a partirem...
Eu acho que isto foi um engano. Alguém acrescentou um zero ao um.
PS- Quadro do emigrante (Malhoa)
País perdido nos próximos dois anos...
As previsões do Banco de Portugal são negras... Em 2009, a economia recua 0,8% em relação a 2008. O número de desempregados aumentará para 90 mil. Ao todo, no final deste ano, 525 mil pessoas estarão sem emprego. As contas, são simples: o emprego cai 1%, o que significa 50 mil pessoas "dispensadas" e a população activa cresce mais de 40 mil. Que ficam na porta do emprego...
Em 2010 serão mais 20 mil no desemprego. E nesse ano, a economia cresce apenas 0,2% (ou seja, estagna). Contas feitas, começaremos 2011 mais pobres (economia) do que em 2008. Ou seja, para quem não se deu, ainda, conta: o país está em agonia, não cresce nos próximos três anos, pelo menos. Milhares de jovens "perdidos" e mais desemprego de longa duração...
Veremos amanhã, sexta-feira, a versão do governo, ao publicar o orçamento suplementar.