sábado, janeiro 24, 2009

Défice externo: o país está a definhar


O défice externo (tal como a dívida externa) é o sintoma mais grave da debilitada saúde da economia portuguesa. Já aqui, o dissemos várias vezes. Enormes défices da balança comercial (as exportações estão em forte desaceleração e terão caído nos últimos meses) e falta de poupanças nacionais (o que leva a banca a endividar-se no exterior para satisfazer o apetite pelos empréstimos internos; por sua vez, obriga a pagar juros ao estrangeiro) são os responsáveis pelo disparo do défice externo. Claro, isto leva a uma enorme dívida ao exterior.

Para 2008, o governo estima um défice externo de 10,5% do PIB. Nos primeiros 11 meses o défice já superava os 9,5%, um aumento de 28% face ao mesmo período de 2007... a Comissão Europeia estima um défice do tamanho de 11,8%. Um recorde absoluto... se não fosse o euro, já alguns anos que o FMI estava a tomar as rédeas da "quinta"...

Logo, Portugal está a caminho de ficar completamente hipotecado ao estrangeiro. Em Outubro, a dívida externa (o stock dos défices) já chegava aos 90,6% do PIB. Para este ano, a Comissão estima um défice menor (9,7% do PIB, o mais baixo dos últimos 4 anos). Mas, esta descida será por más razões: o consumo das famílias cai 0,2%, o investimento em equipamento 11% (!) o que leva as importações a caírem 2,8%. É verdade que haverá um aumento de poupança, o que leva a banca (em conjunto com menores necessidades de créditos do sector privado) a endividar-se menos ao exterior. Mas, todavia, é triste consolo. É que os aumentos de poupança não resultam de maior produtividade.

Isto tem consequências para os próximos anos. Com o fortíssimo corte no investimento em máquinas e consumo, em 2010 e 2011 a economia não pode crescer.

O país não morre. Mas está a definhar.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Sofrer em 2009

Em poucos dias, mais duas previsões. A Comissão Europeia não se engasga e diz que a economia recua 1,6% em 2009, em comparação com 2008. O governo diz que o PIB contrai 0,8% (igual à estimada pelo BP, no princípio deste mês). Ontem, Constâncio, no Parlamento, disse que a queda será entre 0,8% e 1,6% do PIB. A economia internacional deteriorou-se nas duas últimas semanas, justificou. É verdade.
Bom, e as famílias? Para o governo os gastos familiares no consumo aumentarão 0,4% este ano. A Comissão, pelo contrário, diz que descem 0,2%.
A minha opinião? deverá estagnar (é para não me chatear nem com uns, nem com outros). Percebo que a Comissão espera esta quebra, já que estima um recuo de 0,9% no emprego, o que significa mais 90 mil desempregados... Haverá ganhos salariais e de poder de compra para quem não perder emprego, muito à custa de baixa inflação esperada (preços aumentam 1% em média, em relação a 2008). Mas também aumentará a poupança, já que as famílias estão fortemente endividadas e temem o futuro. Ou seja, desemprego e acréscimos de poupança, explica contracção no consumo de bens (alimentares, vestuário, duradouros) e serviços.
O Governo é mais optimista, como se lê em cima. Admite mais desemprego (cerca de 76 mil), mas espera que os aumentos salariais na Função Pública (2,9%) reactive os gastos das famílias. Estou convencido que terá desagradável surpresa: o sector privado não seguirá exemplo e mesmo os felizes sorteados com aumentos aplicarão o "excesso" em poupanças. Há indícios de que os depósitos (a prazo) na banca estão a aumentar (ver DN).
Bom, com isto, a economia sofre. Não há consumo (e as exportações recuam...), não há produção. Mas, com Portugal endividado ao exterior, talvez melhorem as contas externas. Um assunto que deixo para amanhã.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Casinha mais triste...


Deixem-me alertar para o seguinte: o BCE cortou hoje as taxas de juros de empréstimos aos bancos de 2,5% para 2%. As taxas interbancárias, praticadas entre bancos (Euribor) até podem baixar, aproximando-se da cedência do BCE. Mas para Portugal, os únicos a beneficar serão os detentores dos actuais empréstimos. Porque os novos... Bom, têm de suar as estopinhas para conseguir dinheiro do banco, na compra de casinha nova. É que agora para além de um spred mais alto, o financiamento não é a 100%... Aliás, desde Setembro que os novos contratos no hipotecário caíram 50%!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Eu não acreditei... Um milhão de desempregados?


Há dois dias, fiz um texto sobre as "notas" a Portugal, da Standard & Poor`s. Ameaça Portugal com revisão em baixa da nota, o que na prática significa que pagaremos mais juros pelos empréstimos. Isto se as contas do Estado se degradarem (défice orçamental, dívida pública, défice e dívida externa). A S&P também teme agitação política se o PS (!) ganhar as eleições com maioria simples. Mas o que não quis acreditar (não consegui falar com eles) e por isso não escrevi, é que afimam que no conjunto dos próximos 5 a 10 anos, Portugal não cresce 1%... Bem, acho que há um engano, porque a ser verdade, o país estará com mais de um milhão de desempregados, lá para 2016 ou 2017. Ou então, centenas de milhar de portugueses terão de procurar viver no estrangeiro. É a nova emigração após a década de 60...

Vejam, é triste. Vejam os vosso filhos a partirem...

Eu acho que isto foi um engano. Alguém acrescentou um zero ao um.
PS- Quadro do emigrante (Malhoa)

País perdido nos próximos dois anos...

As previsões do Banco de Portugal são negras... Em 2009, a economia recua 0,8% em relação a 2008. O número de desempregados aumentará para 90 mil. Ao todo, no final deste ano, 525 mil pessoas estarão sem emprego. As contas, são simples: o emprego cai 1%, o que significa 50 mil pessoas "dispensadas" e a população activa cresce mais de 40 mil. Que ficam na porta do emprego...
Em 2010 serão mais 20 mil no desemprego. E nesse ano, a economia cresce apenas 0,2% (ou seja, estagna). Contas feitas, começaremos 2011 mais pobres (economia) do que em 2008. Ou seja, para quem não se deu, ainda, conta: o país está em agonia, não cresce nos próximos três anos, pelo menos. Milhares de jovens "perdidos" e mais desemprego de longa duração...
Veremos amanhã, sexta-feira, a versão do governo, ao publicar o orçamento suplementar.