Défice externo: o país está a definhar

O défice externo (tal como a dívida externa) é o sintoma mais grave da debilitada saúde da economia portuguesa. Já aqui, o dissemos várias vezes. Enormes défices da balança comercial (as exportações estão em forte desaceleração e terão caído nos últimos meses) e falta de poupanças nacionais (o que leva a banca a endividar-se no exterior para satisfazer o apetite pelos empréstimos internos; por sua vez, obriga a pagar juros ao estrangeiro) são os responsáveis pelo disparo do défice externo. Claro, isto leva a uma enorme dívida ao exterior.
Para 2008, o governo estima um défice externo de 10,5% do PIB. Nos primeiros 11 meses o défice já superava os 9,5%, um aumento de 28% face ao mesmo período de 2007... a Comissão Europeia estima um défice do tamanho de 11,8%. Um recorde absoluto... se não fosse o euro, já alguns anos que o FMI estava a tomar as rédeas da "quinta"...
Logo, Portugal está a caminho de ficar completamente hipotecado ao estrangeiro. Em Outubro, a dívida externa (o stock dos défices) já chegava aos 90,6% do PIB. Para este ano, a Comissão estima um défice menor (9,7% do PIB, o mais baixo dos últimos 4 anos). Mas, esta descida será por más razões: o consumo das famílias cai 0,2%, o investimento em equipamento 11% (!) o que leva as importações a caírem 2,8%. É verdade que haverá um aumento de poupança, o que leva a banca (em conjunto com menores necessidades de créditos do sector privado) a endividar-se menos ao exterior. Mas, todavia, é triste consolo. É que os aumentos de poupança não resultam de maior produtividade.
Isto tem consequências para os próximos anos. Com o fortíssimo corte no investimento em máquinas e consumo, em 2010 e 2011 a economia não pode crescer.
O país não morre. Mas está a definhar.
Sofrer em 2009
Em poucos dias, mais duas previsões. A Comissão Europeia não se engasga e diz que a economia recua 1,6% em 2009, em comparação com 2008. O governo diz que o PIB contrai 0,8% (igual à estimada pelo BP, no princípio deste mês). Ontem, Constâncio, no Parlamento, disse que a queda será entre 0,8% e 1,6% do PIB. A economia internacional deteriorou-se nas duas últimas semanas, justificou. É verdade.
Bom, e as famílias? Para o governo os gastos familiares no consumo aumentarão 0,4% este ano. A Comissão, pelo contrário, diz que descem 0,2%.
A minha opinião? deverá estagnar
(é para não me chatear nem com uns, nem com outros). Percebo que a Comissão espera esta quebra, já que estima um recuo de 0,9% no emprego, o que significa mais 90 mil desempregados... Haverá ganhos salariais e de poder de compra para quem não perder emprego, muito à custa de baixa inflação esperada (preços aumentam 1% em média, em relação a 2008). Mas também aumentará a poupança, já que as famílias estão fortemente endividadas e temem o futuro. Ou seja, desemprego e acréscimos de poupança, explica contracção no consumo de bens (alimentares, vestuário, duradouros) e serviços.
O Governo é mais optimista, como se lê em cima. Admite mais desemprego (cerca de 76 mil), mas espera que os aumentos salariais na Função Pública (2,9%) reactive os gastos das famílias. Estou convencido que terá desagradável surpresa: o sector privado não seguirá exemplo e mesmo os felizes sorteados com aumentos aplicarão o "excesso" em poupanças. Há indícios de que os depósitos (a prazo) na banca estão a aumentar (ver DN).
Bom, com isto, a economia sofre. Não há consumo (e as exportações recuam...), não há produção. Mas, com Portugal endividado ao exterior, talvez melhorem as contas externas. Um assunto que deixo para amanhã.
Casinha mais triste...

Deixem-me alertar para o seguinte: o BCE cortou hoje as taxas de juros de empréstimos aos bancos de 2,5% para 2%. As taxas interbancárias, praticadas entre bancos (Euribor) até podem baixar, aproximando-se da cedência do BCE. Mas para Portugal, os únicos a beneficar serão os detentores dos actuais empréstimos. Porque os novos... Bom, têm de suar as estopinhas para conseguir dinheiro do banco, na compra de casinha nova. É que agora para além de um spred mais alto, o financiamento não é a 100%... Aliás, desde Setembro que os novos contratos no hipotecário caíram 50%!
Eu não acreditei... Um milhão de desempregados?

Há dois dias, fiz um texto sobre as "notas" a Portugal, da Standard & Poor`s. Ameaça Portugal com revisão em baixa da nota, o que na prática significa que pagaremos mais juros pelos empréstimos. Isto se as contas do Estado se degradarem (défice orçamental, dívida pública, défice e dívida externa). A S&P também teme agitação política se o PS (!) ganhar as eleições com maioria simples. Mas o que não quis acreditar (não consegui falar com eles) e por isso não escrevi, é que afimam que no conjunto dos próximos 5 a 10 anos, Portugal não cresce 1%... Bem, acho que há um engano, porque a ser verdade, o país estará com mais de um milhão de desempregados, lá para 2016 ou 2017. Ou então, centenas de milhar de portugueses terão de procurar viver no estrangeiro. É a nova emigração após a década de 60...
Vejam, é triste. Vejam os vosso filhos a partirem...
Eu acho que isto foi um engano. Alguém acrescentou um zero ao um.
PS- Quadro do emigrante (Malhoa)
País perdido nos próximos dois anos...
As previsões do Banco de Portugal são negras... Em 2009, a economia recua 0,8% em relação a 2008. O número de desempregados aumentará para 90 mil. Ao todo, no final deste ano, 525 mil pessoas estarão sem emprego. As contas, são simples: o emprego cai 1%, o que significa 50 mil pessoas "dispensadas" e a população activa cresce mais de 40 mil. Que ficam na porta do emprego...
Em 2010 serão mais 20 mil no desemprego. E nesse ano, a economia cresce apenas 0,2% (ou seja, estagna). Contas feitas, começaremos 2011 mais pobres (economia) do que em 2008. Ou seja, para quem não se deu, ainda, conta: o país está em agonia, não cresce nos próximos três anos, pelo menos. Milhares de jovens "perdidos" e mais desemprego de longa duração...
Veremos amanhã, sexta-feira, a versão do governo, ao publicar o orçamento suplementar.